: Florbela Espanca, August Nemo
: Mestres da Poesia - Florbela Espanca
: Tacet Books
: 9783969173480
: 1
: CHF 7.10
:
: Lyrik
: Portuguese
: 170
: Wasserzeichen
: PC/MAC/eReader/Tablet
: ePUB
Bem-vindo à série de livros Mestres da Poesia, uma seleção das melhores obras de autores notáveis. O crítico literário August Nemo seleciona os textos mais importantes de cada autor. A seleção é realizada a partir da obra poética, contos, cartas, ensaios e textos biográficos de cada escritor. Oferecendo assim ao leitor uma visão geral da vida e obra do autor. Esta edição é dedicada a Florbela Espanca, uma poetisa portuguesa. Em sua obra, Florbela soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo. Este livro contém os seguintes textos: Livros completos: Livro de Mágoas; Livro de Sóror Saudade; Charneca em flor; O Livro D'Ele. Contos: O Aviador; A morta; Os mortos não voltam; O resto é perfume; A paixão de Maniel Garcia; O inventor; As orações de Sóror Maria da Pureza; O sobrenatural, O dominó preto; Em buscaq de um novo rumo; Mamã. Cartas: António Guimarães, Apeles e Guido Battelli.

Florbela Espanca (Vila Viçosa, 8 de dezembro de 1894 Matosinhos, 8 de dezembro de 1930) foi uma poetisa portuguesa. A sua vida, de apenas 36 anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos, que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo.

 

Livro de Sóror Saudade


 

 

 

Irmã; Sóror Saudade, ah! se eu pudesse
Tocar de aspiração a nossa vida,
Fazer do mundo a Terra Prometida
Que ainda em sonho às vezes me aparece!

 Américo Durão

 

 

 

II n'a pas à se plaindre celui qui attend
Un sentiment plus ardent et plus généreux.
II n'a pas à se plaindre celui qui attend
Le désir d'un peu plus de bonbeur, d'un
Peu plus de beauté, d'un peu plus de justice.

 Maeterlinck - La Sagesse et la Destinée

 

 

 

"Sóror Saudade"


A Américo Durão

 

Irmã, Sóror Saudade me chamaste...
E na minh'alma o nome iluminou-se
Como um vitral ao sol, como se fosse
A luz do próprio sonho que sonhaste.
 
Numa tarde de Outono o murmuraste,
Toda a mágoa do Outono ele me trouxe,
Jamais me hão de chamar outro mais doce.
Com ele bem mais triste me tornaste...
 
E baixinho, na alma da minh'alma,
Como bênção de sol que afaga e acalma,
Nas horas más de febre e de ansiedade,
 
Como se fossem pétalas caindo
Digo as palavras desse nome lindo
Que tu me deste:"Irmã, Sóror Saudade..."
 

 

 

O nosso livro


 

A A.G.

 

Livro do meu amor, do teu amor,
Livro do nosso amor, do nosso peito...
Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,
Como se fossem pétalas de flor.
 
Olha que eu outro já não sei compor
Mais santamente triste, mais perfeito
Não esfolhes os lírios com que é feito
Que outros não tenho em meu jardim de dor!
 
Livro de mais ninguém! Só meu! Só teu!
Num sorriso tu dizes e digo eu:
Versos só nossos mas que lindos sois!
 
Ah, meu Amor! Mas quanta, quanta gente
Dirá, fechando o livro docemente:
"Versos só nossos, só de nós os dois!..."
 

 

 

O que tu és...


 

És Aquela que tudo te entristece
Irrita e amargura, tudo humilha;
Aquela a quem a Mágoa chamou filha;
A que aos homens e a Deus nada merece.
 
Aquela que o sol claro entenebrece
A que nem sabe a estrada que ora trilha,
Que nem um lindo amor de maravilha
Sequer deslumbra, e ilumina e aquece!
 
Mar-Morto sem marés nem ondas largas,
A rastejar no chão como as mendigas,
Todo feito de lágrimas amargas!
 
És ano que não teve Primavera...
Ah! Não seres como as outras raparigas
Ó Princesa Encantada da Quimera!...
 

 

 

Fanatismo


 

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!
 
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No mist'rioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!...
 
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
 
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."
 

 

 

Alentejano


 

À Buja

 

Deu agora meio-dia; o sol é quente
Beijando a urze triste